terça-feira, 22 de novembro de 2011

AS PALAVRAS QUE NÃO GUARDAREI PRA MIM!


E o ano vai terminando. A hora em que você vê a primeira pilha de panetones no supermercado, e percebe o brilho das luzinhas enfeitando as varandas, constata que tá no fim.
Ao mesmo tempo em que os sinais ficam claros, você começa a fazer um balanço mental do que fez e deixou de fazer e conclui algumas coisas. Você olha pro ano. Olha pra onde esteve no ano novo passado, e se depara com aquela esperança fresquinha, novinha em folha. Uma esperança carregada de desejos.
JANEIRO - Eu me iludi em janeiro. E essa ilusão se desfez em FEVEREIRO, quando resolvi chutar o pau da barraca e constatar o óbvio. Claro que o serviço público deste país mantém a excelência dos serviços prestados, seja em que instância for.
FEVEREIRO - Eu chutei o pau em fevereiro. Fui lá na vara de Santo Amaro, e constatei que era uma pessoa habilitada no CNA junto com o Silvio, e voltei ao erro de janeiro. Me iludi novamente. A CRIATURA é tão burra e crente, que saiu de lá achando, jurando e acreditando que sua inclusão no cadastro nacional de adoção era somente o que eu precisava pra lutar.
MARÇO - Respirei fundo em março, tentando empurrar pra dentro a emoção do número. Afinal, seria muita pretenção a nossa, achar que alguém inserido em janeiro, teria algum tipo de experiência assim tão rápido, pelamor.
ABRIL - Eu me fodi em abril. Foi eu ir pra Campos do Jordão e olhar pra cara daquele feijãozinho, numa sexta feira Santa, pra saber. Eu não seria mais a mesma pessoa de abril pra frente, acontecesse o que fosse.
MAIO - Eu acreditei em maio. Achei que as pessoas falam e fazem aquilo que falam. Achei que poderia lutar, que deveria fazer o que fosse preciso. Eu aprendi a sentir esperança.
JUNHO - Eu fiquei mais velha biológicamente em junho. Como se o tempo físico pudesse acompanhar as mudanças que o tempo subjetivo fez em mim. Em junho eu já sabia que a CRIATURA que eu fui, deixava de existir. Pouco a pouco, fui reparando que a pessoa que eu via no espelho, apenas lembrava alguém que conheci.
JULHO - Eu morri em julho. E enquanto fiquei ali seca e dura, pude tirar proveito de algumas lições que não tinham ficado bem claras até ali. Julho foi foda. A cena do Pikatchu me esperando DENTRO da estação São Judas do metro, é emblemática.
AGOSTO - Eu entendi em agosto. Entendi que não me faltam forças pra lutar, nem esperanças pra sentir, nem crianças pra buscar. Achei que tudo vale a pena pra quem cedo madruga. Levantei e sacudi a poeira em agosto.
SETEMBRO - Alimentei esperanças em setembro. Vi alguns caminhos a frente, ponderei algumas situações, viajei e recebi um telefonema da vara da infancia enquanto eu estava longe, olha só? Mas não... não era pra mim.
OUTUBRO - Me fodi pior que em abril, em outubro. Porque aqui eu tive certeza, se é que precisava passar por essa experiência pra saber, que NÃO DEVO TOMAR NENHUMA ATITUDE. E pode ser que tenha posto tudo a perder em outubro, não estou bem certa. Porque eu posso ser acusada de tudo, mas que não julguem as minhas mais honestas intenções, e das pessoas que me amam. A gente tenta, porque não somos o tipo de gente que fica de braços cruzados esperando a boa vontade de gente concursada. E é aí que a gente se fode, mas beleza.
NOVEMBRO - Eu to analisando em novembro. Pela primeira vez este ano, eu to pensando seriamente nas minhas inumeras OUTRAS possibilidades possíveis. Estou pensando em guardar dentro de um lugar bem seguro dentro de mim, o que passei este ano. E já sei que este lugar não é o coração. Porque como disse alguém ao longo desse ano, " Você é muito ansiosa!". Ráááá... E gente ansiosa, e talvez não tão burra quanto aparente, não guarda nada no coração, que não saiba suportar, não é mesmo? Talvez deva seguir o conselho desta mesma pessoa tão capacitada, e ir me tratar.
E DEZEMBRO? - Em dezembro eu ignorarei o papai noel, as luzinhas, o panetone e os desejos. Eu só não ignorarei o presépio de playmobil que o Luis me deu, porque não se ignora uma coisa como essas. E porque o menino Jesus não tem culpa de nada.
E lá no finzinho, eu estarei na mesma posição do ano novo anterior, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas queridas em volta, menos uma.
E essa uma que não vai estar, não é a criança que não não adotei este ano. Esta uma que não vai estar não é o meu filho ou filha que ainda não encontrei.
Essa uma que não vai mais estar, já tinha morrido em julho. E agora preciso de forças pra enterra-la num lugar digno de quem merece todas as honras. Porque se tem uma coisa que me orgulho, é da pessoa que fui até aqui.
E daqui pra frente? Como é que saberei o que vem pela frente? Eu não faço a menor idéia do que esta CRIATURA que agora digita, é capaz de fazer!
Mas uma coisa eu já sei.
Há um mundo de possibilidades pra mim. E eu mereço elas todas.
Adeus 2011, foi um prazer! E como diria a placa em frente a jaula no Ueno Zoo, em Tokyo...
" THE PANDA IS DEAD!"

Nenhum comentário: