segunda-feira, 5 de março de 2012

PULGAS





Tem gente que nasce com pulgas no sangue, esse é definitivamente meu caso. Uma nostalgia que se sente, daquilo que nem se viveu. Um apreço pelo que é antiquado, velho, esquecido. Sei que um dos prazeres maiores que tenho na vida, é frequentar mercados de pulgas e feiras de antiguidades. Tenho respeito por objetos que carregam marcas do tempo. Livros que passaram em varias mãos, que trazem o amarelo do tempo em suas entranhas. Louças que ficaram sem par. Porcelanas de um tempo em que lavar louça somente com sabão de pedra. Roupas que caíram de moda. Mofo. A alergia e alegria que contém uma maçaneta do tempo. Brinquedos de gente que cresceu e quem sabe até morreu. Lenços de mulheres que seduziam em outros tempos. Quinquilharias. Tenho uma nostalgia de tempos que não são meus por vivência e sim por respeito. Histórias que ficam ali, no descosturado de uma barra, no puído das mangas. Cortes de fazenda, de uma época 100% viscolycrafree, que maravilha. Tempos de meias de seda, e não nylon. Tempos de rouge e não blush. Tempos de luvas e chapéus. Tempos em que se tomava um chá as 5. Se aceitava gentilezas ao invés de insultos. Onde valia ser, e não ter. Onde consumia-se algo, que o tempo teimou em preservar, pra numa tarde fria de outono em NY, dar de frente comigo. A sensação de encontrar um objeto que se perdeu no tempo e se encontra, ao cruzar com meus olhos. Um valor que se impõe nos desgastes, e no prazer de continuar contando histórias pra mim. Tenho pulgas no sangue e por isso meu coração pula alto e feliz... quando te vê.

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